A fundação de Jericó

Estou lendo o livro de MITHEN, S. After the Ice: A Global Human History, 20,000 – 5000 BC. London: Weidenfeld & Nicolson, 2011, 664 p. O livro foi publicado, em inglês, em 2003. Há uma tradução para o português, Depois do gelo, pela Imago, Rio de Janeiro, 2007.

Steven Mithen (nascido em 1960) é um arqueólogo britânico, conhecido por seu trabalho sobre a evolução da linguagem, música e inteligência, caçadores-coletores pré-históricos e as origens da agricultura. Ele é professor de pré-história inicial na Universidade de Reading, Reino Unido. Veja suas publicações.

Diz Steven Mithen no prefácio:MITHEN, S. After the Ice: A Global Human History, 20,000 - 5000 BC. London: Weidenfeld & Nicolson, 2011, 664 p.

Este livro é uma história do mundo entre 20000 e 5000 a.C. Foi escrito para aqueles que gostam de pensar no passado e desejam saber mais sobre as origens da agricultura, das cidades e da civilização. E também para os que pensam no futuro. O período em discussão foi o de aquecimento global, durante o qual surgiram novos tipos de plantas e animais — espécies domésticas que sustentaram a revolução agrícola (…)

Este livro faz perguntas simples sobre a história humana: o que aconteceu, quando, onde e por quê? Oferece respostas entremeando uma narrativa histórica com argumentos causais. Ao fazê-lo, atende também aos leitores que perguntarão: “como sabemos disso?” — muitas vezes uma pergunta muito apropriada quando os indícios arqueológicos parecem tão escassos. E After the Ice [Depois do Gelo] faz outro tipo de pergunta sobre o passado: como era viver em tempos pré-históricos? Qual era a experiência do dia a dia daqueles que viveram o aquecimento global, uma revolução agrícola e a origem da civilização?

Tentei escrever um livro que torne acessível a um vasto público os indícios da pré-história, mantendo ao mesmo tempo os mais altos níveis de erudição acadêmica.

E no capítulo 1, O nascimento da história, o autor explica:

A história humana começou em 50000 a.C. ou por aí. Talvez 100000 a.C., mas certamente não antes. A evolução humana tem um pedigree bem mais longo — pelo menos 3 bilhões de anos se passaram desde a origem da vida, e 6 milhões desde que nossa linhagem se cindiu à do chimpanzé. A história, desenvolvimento cumulativo de fatos e conhecimento, é assunto recente e surpreendentemente curta. Pouca coisa de importância aconteceu até 20000 a.C. — as pessoas apenas continuaram vivendo como caçadores-coletores, exatamente como vinham fazendo seus ancestrais por milhões de anos. Viviam em pequenas comunidades e jamais permaneciam muito tempo em um assentamento. Pintaram-se algumas paredes de cavernas e fizeram-se algumas armas de caça mais ou menos excelentes; mas não houve fatos que influenciassem o curso da história futura, que criassem o mundo moderno.

Então vieram uns espantosos 15 mil anos que testemunharam a origem da agricultura, das cidades e da civilização. Em 5000 a.C., as fundações do mundo moderno já se haviam estabelecido, e nada do que veio depois — a Grécia clássica, a Revolução Industrial, a era atômica, a Internet — jamais se igualou ao significado desses fatos. Se 50000 a.C. assinalou o nascimento da história, 20000 – 5000 a.C. foi a sua maioridade.

 

O capítulo 7 trata da Fundação de Jericó: arquitetura neolítica, enterro e tecnologia do Vale do Jordão, 9600 – 8500 a.C.

Transcrevo abaixo uma tradução deste capítulo. O estudo de Jericó faz parte, ainda que em sobrevoo, de meu programa de História de Israel. Mas sempre tive curiosidade de saber mais sobre a Jericó pré-histórica. Meu professor de arqueologia no PIB, Robert North, fez escavações em Ghassul e sempre falava com entusiasmo de Kathleen Kenyon, que escavou Jericó.

Steven Mithen (nascido em 1960)John Lubbock* está parado na sombra da noite das colinas palestinas, olhando um grupo de pequenas moradas redondas no vale embaixo. Possuem telhados planos de palha e se misturam com abrigos de palha, não diferentes dos que ele viu em Ohalo em 20000 a.C. Mas as casas agora são completamente novas. Salgueiros, choupos e figueiras cercam a aldeia, evidentemente alimentados por uma nascente local e crescendo exuberantes no novo mundo quente e úmido do Holoceno. Mais adiante, pântanos chegam até a beira do lago Lissan — conhecido hoje como Mar Morto.

Muitas árvores foram derrubadas para fornecer material de construção e criar pequenos campos para cevada e trigo. Se essas safras são biologicamente domésticas ou selvagens, parece inteiramente sem importância, uma vez que com certeza chegou o novo mundo da agricultura. A data é 9600 a.C. e John Lubbock olha para Jericó, aldeia que assinala uma virada na história do oeste asiático.

Minha primeira visão de Tell es-Sultan, a antiga Jericó, foi igualmente impressionante, mas menos pitoresca. Também eu fiquei parado à sombra das colinas palestinas, cerca de meio quilômetro a oeste do que se tornara um grande monte constituído por vários milênios de construções desmoronadas e detritos humanos, erodidos pelo sol, pelo vento e pela chuva. Muito a leste, faixas de brilhantes amarelos e deslumbrantes brancos do vale do Jordão ainda ardiam ao sol; imediatamente abaixo de mim, os prédios de blocos cinza-opaco da cidade palestina que hoje cerca o antigo sítio. Mas ali, no centro de minha visão, estava Tell es-Sultan, famosa como a “mais antiga cidade do mundo”. Parecia uma pedreira antiga, ou mesmo uma zona de bombardeio.

Isso, claro, era culpa da minha profissão — os arqueólogos que começaram a cavar o monte em 1867. Poucos anos depois, o Capitão Charles Warren fora procurar as muralhas derrubadas pelas trombetas de Josué e seus israelitas, acreditando que Tell es-Sultan era a antiga Jericó bíblica. Uma equipe de estudiosos alemães o seguiu entre 1908 e 1911, e depois John Garstang, da Universidade de Liverpool, na década de 1930. Mas foram as grandes escavações de Kathleen Kenyon, entre 1952 e 1958, que revelaram ao mundo a antiga Jericó[1].

Kathleen escreveu que “o oásis está quase como imaginamos o Jardim do Éden”[2]. As verdes árvores e a Terra agrícola arável que cercavam a Jericó para a qual eu olhava espalhavam-se por muitos quilômetros além do belo oásis que Kathleen vira. Irrigação moderna hoje leva água de ‘Ain es-Sultan — a nascente que deu origem à aldeia — a campos distantes no vale. Assim, usei a imaginação para abater aquelas árvores distantes e plantei muito mais palmeiras em torno do monte. Demoli as construções de concreto e blocos pré-moldados e plantei campos de milho no lugar. Depois armei um conjunto de tendas brancas que Kathleen usara no pé do monte. Uma vez erigidas, eu via um rio de trabalhadores deixando o monte ao fim do dia de trabalho, os arqueólogos e estudantes instalando-se para o chá, antes de começar a classificar as descobertas.

Esse foi o dia em que eles tiveram a primeira sugestão da mais antiga construção dentro do monte. A cidade da Idade do Bronze e a de edifícios retangulares do Neolítico Tardio já eram bem conhecidas. Mas nesse dia, que eu sabia ter sido em algum momento em 1956, “ficou claro”, Kathleen escreveria depois, “que estávamos penetrando numa diferente fase abaixo… os pisos eram de terra, não de gesso… as paredes eram curvas e as plantas das casas pareciam ser redondas”[3].

Sabemos que grupos de pessoas natufianas acamparam junto à nascente, porque ali se encontraram espalhados seus instrumentos em forma de meia-lua. Com toda probabilidade plantaram cereais, ervilhas, lentilhas, e conseguiram uma magra colheita antes de partirem para viver em outra parte no vale ou nas colinas.

Por volta de 9600 a.C., as secas de verão chegaram ao fim. Novas chuvas alimentaram os rios que se precipitaram pelas colinas palestinas; o Jordão começou a encher. Espessas camadas de solo rico e fértil foram depositadas no vale do Jordão por novas enchentes anuais, e estas foram irrigadas pela fonte que fluía com um vigor recém-descoberto. As safras cultivadas floresceram, muito provavelmente substituindo as plantas selvagens não cuidadas como principais fornecedoras de alimentos. Os natufianos tardios estenderam a duração de sua estada, até que a história se repetiu e a vida sedentária da aldeia renasceu longe das matas mediterrâneas preferidas pelos natufianos iniciais. E assim Jericó foi fundada, e com ela as pessoas se tornaram agricultores.

As pessoas continuaram a viver em Jericó até os dias atuais. A primeira aldeia foi sepultada sob casas, armazéns e santuários construídos por sucessivas gerações, as que usaram cerâmica, bronze, e depois entraram nos anais da história do Antigo Testamento. E assim um monte gigante foi criado pela nascente de ‘Ain es-Sultan, de 250 metros de comprimento e mais de 10 metros de altura. Consistia de paredes de adobe desmoronadas e camada sobre camada de pisos de casas e fossas de lixos; mas, além de detritos humanos, o monte continha os pertences perdidos e os túmulos ocultos de 10 mil anos de história humana.

Kathleen Kenyon (1906-1978) chegou a Jericó querendo aplicar o que para ela eram técnicas moderníssimas de escavação. Como Dorothy Garrod, que descobrira o natufiano, Kathleen foi uma das grandes arqueólogas britânicas do século XX. As duas venceram no que era em essência um mundo masculino. Kenyon estudou em Oxford durante a década de 1920 e, em seguida, dirigiu escavações na Inglaterra e na África. Atuou como diretora do Instituto de Arqueologia do University College, em Londres, durante a guerra, e acabou por tornar-se diretora do St. Hugh’s College, em Oxford. Recebeu muitas honrarias, que culminaram com a concessão do título de Dama do Império Britânico em 1973[4].

Seu objetivo em 1952 era explorar mais as fases finais da antiga cidade, aquelas relacionadas com a história bíblica, e descobrir os vestígios mais antigos, que julgava mais importantes e merecedores de “completa exploração”. Tinha toda razão. Isso se tornou evidente para o mundo em 1957, quando ela publicou uma história popular de seu trabalho, Digging Up Jericho [Desenterrando Jericó]. Os acadêmicos, porém, tiveram de esperar até o início da década de 1980 para que saíssem os volumes adequadamente enormes descrevendo a arquitetura, a cerâmica e a sequência-chave de camadas dentro do monte[5]. Infelizmente, Kathleen havia morrido alguns anos antes de sua publicação.

John Lubbock está agora dentro da aldeia, ajudando a construir uma casa de adobe. Há muita obra de construção em andamento, pois os abrigos de sapé são aos poucos substituídos por construções mais perenes. Com as chuvas de inverno confiáveis, safras produtivas e abundante caça selvagem dentro do vale, o povo de Jericó não precisa partir. Sempre que eles preferem passar várias semanas ou meses fora, visitando amigos e parentes ou em longas expedições de caça ou comércio, sabem que voltarão a Jericó. E assim estão dispostos a investir tempo e energia na construção de casas de adobe e na limpeza de campos. Uma vez construídas umas poucas casas, Jericó atraiu novos moradores dispostos a deixar seus grupos de caçadores-coletores e juntar-se ao novo estilo de vida de cultivar plantações.

Lubbock passou a manhã cavando argila do fundo do vale e transportando-a em um trenó de madeira para a aldeia; lá, ela é misturada com palha e cortada em tijolosA Torre de Jericó em Tell es-Sultan oblongos que são deixados para secar ao sol. Eles serão unidos com uma argamassa de lama para fazer as paredes de moradias redondas, cada uma com cerca de 5 metros de diâmetro e com pisos rebaixados. As paredes superiores serão construídas com gravetos e galhos, o teto com juncos untados com argila.

Nessa noite, depois de se banhar na fonte, Lubbock anda pela aldeia e conta nada menos que cinquenta moradas — algumas dispostas em torno de pátios para uso de grandes famílias, outras sós ou em grupos isolados. Há fogueiras dentro e fora, e um denso véu de fumaça paira entre os becos. As pessoas sentam-se em pátios, algumas trançando esteiras e cestos, outras trocando noticias e fazendo planos para o dia seguinte. Em 9600 a.C., é provável que haja mais de quinhentas pessoas vivendo em Jericó — talvez a primeira vez na história da humanidade que uma população completamente viável estava vivendo no mesmo lugar ao mesmo tempo.

Dentro de 500 anos, Jericó já se tornara ainda maior, com mais de setenta moradias, talvez com uma população de mil habitantes. Uma parte bem maior da mata em redor foi aberta e grandes áreas se achavam em cultivo. Muitas das moradias originais já haviam desabado ou sido deliberadamente derrubadas para construírem-se outras sobre suas ruínas. Mas a diferença mais impressionante em relação à aldeia era que seu lado oeste, de frente para as colinas palestinas, era cercado por um enorme muro de pedra e uma grande torre circular havia sido construída em seu interior.

Kathleen Kenyon descobriu essas construções durante suas escavações em 1956. Parece improvável que a muralha, de 3,6 metros de altura e 1,8 de largura na base, tenha cercado todo o assentamento, pois nenhum vestígio dela se encontrou no lado leste. Dentro desse muro ela descobriu os restos da torre, de 8 metros de altura e 9 de diâmetro na base, com um peso estimado de mil toneladas. Uma escada interna, com 22 degraus de pedra, conduzia ao topo. Tal arquitetura era inteiramente sem precedentes na história humana, e é a mais notável das descobertas de Kathleen — seriam necessários pelo menos 100 homens, trabalhando durante 100 dias, para construir a muralha e a torre. Como ela própria sugeriu, “em concepção e construção, essa torre não faria vergonha diante de um dos mais grandiosos castelos medievais”[6]. A muralha e a torre permanecem inteiramente únicos para esse período.

Kathleen supôs que foram construídos para defender a cidade de ataque, uma conclusão aparentemente incontestável, em vista das ligações bíblicas de Jericó. Só em 1986 Ofer Bar-Yosef fez algumas perguntas óbvias: quem eram os inimigos de Jericó? Por que a muralha não foi reconstruída depois de ser sepultada por detritos de casas após não mais que 200 anos? Por que não há outros locais fortificados da mesma data no oeste asiático?

Bar-Yosef concluiu que as muralhas eram para defesa, mas não contra um exército invasor— o inimigo era a água e a lama das enchentes[7]. Jericó vivia em perpétuo perigo quando a chuva aumentava e o desflorestamento desestabilizava sedimentos nas colinas palestinas, que podiam então ser carregados para a borda da aldeia pelos wadis próximos. Quando o lixo da aldeia sepultou as muralhas, o nível de assentamento já tinha literalmente se elevado pelo acúmulo de casas desmoronadas e lixo humano. Isso afastou as ameaças da água e lama das enchentes. Simplesmente não se precisava mais de uma muralha.

Ofer Bar-Yosef descartou a ideia de que a torre se destinava a fortificação. Ficou impressionado com sua ótima conservação, e sugeriu que isso pode ter sido ajudado pela presença de uma plataforma de adobe em cima da construção de pedra. A própria Kathleen encontrou, ligadas ao lado norte da muralha, vestígios de construções que julgou que poderiam ter sido usadas para armazenar grãos. Em vista disso, Bar-Yosef sugeriu que a torre era de propriedade pública ou estava a serviço da comunidade, talvez como um centro de cerimônias anuais. Não parece provável que algum dia se encontre uma resposta definitiva — embora mais escavações nas vizinhanças da torre certamente ajudassem. O que é claro é que, com a construção da muralha e da torre, as pessoas criavam arquitetura e atividade comunal em escala inteiramente nova. Começara uma nova fase da história humana.

Em fins da década de 1950, assentamentos de aldeias semelhantes na Europa — embora muito mais novos em idade —já haviam sido descritos como neolíticos. Na década de 1920, Gordon Childe, o principal arqueólogo do período pré-guerra, cunhara a expressão “Revolução Neolítica” para se referir ao surgimento repentino de assentamentos que ele acreditava refletir uma mudança radical no modo de vida. Isso não apenas envolvia agricultura, mas arquitetura, cerâmica e machados de pedra polida. Childe pensava que estes formavam um “pacote neolítico”, que sempre era adquirido como um todo único e indivisível.[8].

Kathleen Kenyon (1906–1978), arqueóloga britânica conhecida por suas escavações em Jericó.Kathleen Kenyon descobriu que ele estava errado. Embora as casas, túmulos e estilo de vida deles em geral se encaixassem bem no molde neolítico, os primeiros aldeões em Jericó não dispunham de um dos elementos cruciais do pacote neolítico: a cerâmica. As poucas tigelas, vasos, pratos ou copos que sobreviveram eram feitos de pedra; é provável que muitos mais tenham sido feitos de madeira ou fibras vegetais. E assim Kathleen cunhou um novo termo para a cultura inicial de Jericó: o Neolítico Pré-Cerâmico (PPN na sigla em inglês). Na verdade, designou a primeira aldeia em Jericó como pertencente ao “Neolítico Pré-Cerâmico A” — um período que agora se sabe ter durado não mais do que mil anos após o início do Holoceno.

Aqueles que viveram na aldeia “PPNA” de Jerico, viveram literalmente com seus mortos. Kathleen descobriu nada menos que 276 sepulturas, embora escavasse apenas 10% do assentamento. Estavam todos associados às construções, de uma forma ou de outra; ficavam embaixo do piso, sob a estrutura das casas, entre paredes e dentro da torre. Continuava a tradição-chave de enterro do Natufiano Tardio: as pessoas tendiam mais a ser enterradas sós que em grupos; muito poucos artefatos, quando tinha algum, eram enterrados com os mortos.

Após os enterros, e muito provavelmente quando toda a carne já se havia decomposto, cavavam-se frequentemente covas para tirar os crânios, muitos dos quais eram depois reenterrados em outro lugar dentro da aldeia. Uma coleção de cinco crânios de bebês foi colocada dentro de uma cova abaixo do que Kathleen julgava fosse um altar. Mas a maioria das crianças e bebês, que representavam 40% dos enterros, foi deixada intacta — eram principalmente os crânios dos adultos os removidos para exposição e eventual reenterro.

Por que havia tal interesse pelos crânios? Era um interesse que se tornaria muitíssimo elaborado à medida que a aldeia de Jericó se tornava uma cidadezinha, levando à cobertura dos crânios com máscaras de gesso e olhos de conchas de caurim. Kathleen pensou que houvera um culto aos ancestrais e estabeleceu uma comparação com o povo do rio Sepik na Nova Guiné, que em tempos recentes usava os crânios de venerados ancestrais em seus rituais. Mas jamais vamos saber exatamente por que as pessoas de Jericó — e na verdade de todo o oeste asiático e além — exumavam e reenterravam crânios humanos, talvez após um período de exposição[9].

Como acontecia com essas práticas funerárias, os instrumentos usados pelos aldeões de Jericó eram muito semelhantes aos do Natufiano Tardio, embora tenham algumas grandes inovações tecnológicas. A mais impressionante foi o uso de adobe para construção — trabalho intensivo que demonstrava o compromisso com a vida da aldeia. Contudo, muitos dos artefatos de pedra continuaram em grande parte sem mudança. Ainda se faziam micrólitos, assim como uma gama de lâminas, raspadores e foices. Machados e enxós de pedra, o que não surpreende, foram encontrados em número muito maior que antes. Eram usados para derrubar a vegetação para os campos. Esse desmatamento pode ter contribuído para a erosão do solo, aumentando a necessidade de uma muralha defensiva. Um artigo, porém, merece especial atenção: um novo tipo de ponta de flecha, conhecida pelos arqueólogos como ponta “el-Khiam”. Era de forma triangular, com duas ranhuras laterais usadas para prender ao cabo, e batizada com o nome do sítio onde foram descobertos os primeiros espécimes[10].

Assim como os micrólitos geométricos e lunares tinham vindo e passado de moda, o mesmo aconteceu com as pontas el-Khiam. Elas atingiram o auge da popularidade por volta de 9000 a.C, quando aparecem quase simultaneamente em todas as regiões ocidentais e centrais do Crescente Fértil. Como tal, não esta claro onde se originou o novo desenho, ou por que se tornou tão largamente adotado por toda essa vasta região. Muitas têm desenho aerodinâmico, e bem podem ter levado a uma substancial melhora na eficiência da caça. Mas nova pesquisa, empregando estudo microscópico, mostrou que um grande número dessas pontas foi usado mais como sovelas e puas que como pontas de projéteis, como se supunha tradicionalmente [11].

As gazelas continuaram a ser o principal alvo dos caçadores. Mas com a expansão da floresta, uma gama maior de animais tornou-se disponível como presa – e, portanto, os ossos de gamos e javalis se juntaram aos de gazelas e íbex dentro dos montes de lixo de Jericó. Raposas e pássaros, especialmente aves de rapina, também se tornaram proeminentes. É improvável que tenham sido caçados como comida: pele de raposa, garras, elegantes penas de asas e caudas podem ter sido artigos cruciais de adorno do corpo. Podem ter feito parte das redes de comércio que se desenvolvia rapidamente no vale do Jordão e além. Pois Jericó não estava sozinha nesse novo mundo neolítico.

 

Notas
1. O relato popular de Kenyon (1957) sobre seu trabalho, Digging Up Jericho, continua sendo um clássico e contém um resumo do trabalho anterior sobre o tell. As datas de radiocarbono para o assentamento PPNA [Pre-Pottery Neolithic A – Neolítico pré-cerâmico A] em Jericó são resumidas em Bar-Yosef & Gopher (1997). Eles listam quinze datas da trincheira ocidental que variam de 10300 ± 500 (10856–9351 cal a.C.) a 9230 ± 220 (8796–8205 cal a.C.), e três da seção norte entre 9582 ± 89 AP (9160 ± 8800 cal a.C.) e 9200 ± 70 AP (8521–8292 cal a.C.) [Obs.: cal = calibrated. As medições de datação por radiocarbono produzem idades em “anos de radiocarbono”, que devem ser convertidas em idades de calendário por um processo chamado calibração. AP = “Antes do presente” é uma marcação de tempo utilizada na arqueologia, paleontologia e geologia, que tem como base de referência o ano de 1950 d.C.].Área do Crescente Fértil, c. 7500 a.C., com os principais sítios. Jericó foi um dos principais sítios do período Neolítico Pré-Cerâmico.
2. Kenyon (1957, p. 25).
3. Kenyon (1957, p. 70).
4. Para uma breve biografia de Kenyon, veja Champion (1998).
5. Para a arquitetura e estratigrafia de Jericó, veja Kenyon & Holland (1981); para a cerâmica e outros achados, veja Kenyon & Holland (1982, 1983).
6. Kenyon (1957, p. 68).
7. Bar-Yosef (1996) argumentou que os muros de Jericó eram para defesa contra inundações e deslizamentos de terra.
8. Para as opiniões de Childe sobre o Neolítico, veja, por exemplo, Childe (1925, 1928).
9. Embora Kenyon tenha se referido aos cultos de crânios do vale do rio Sepik na Nova Guiné, ela não desenvolveu seu argumento de que estes poderiam fornecer analogias úteis para aqueles da PPNA. Na região do rio Sepik, os ancestrais do clã eram normalmente representados por máscaras, muitas vezes de pessoas que supostamente desempenharam um papel fundamental na formação e história do clã. Assim como Kenyon sugere, os crânios engessados ​​da PPNA podem ter sido de pessoas que desempenharam um papel fundamental na fundação da aldeia. No vale Sepik, crânios decorados e cabeças encolhidas eram frequentemente feitos de cabeças decepadas de inimigos; Baxter Riley (1923) fornece descrições particularmente evocativas de como as cabeças e crânios eram preparados. As práticas de caça de cabeças e o uso de cabeças como troféus, como praticado na Oceania, também podem fornecer analogias úteis para as práticas da PPNA e foram descritas por Hutton (1922, 1928) e Von Furer-Haimendorf (1938).
10. Pontas El-Khiam são pontas simétricas feitas em pequenas lâminas com dois entalhes basais. Elas foram originalmente definidas a partir das escavações no terraço de El-Khiam por Echegaray (1963). Por vinte anos, essa ponta foi o único tipo definido para o PPNA, mas à medida que coleções mais extensas se tornaram disponíveis, outros artefatos de tipo foram propostos, notavelmente a ponta do vale do Jordão e a ponta de Salibiya (Nadel et al., 1991). Todos os três são triangulares em forma com uma base estreita. Outros tipos de artefatos de sílex também foram reconhecidos como exclusivos do PPNA, notavelmente o truncamento de Hagdud, conforme descrito por Bar-Yosef et al. (1987). Para aqueles que gostam das complexidades da tipologia de pedra lascada neolítica do Crescente Fértil, Gebel e Kozlowski (1994) é uma leitura essencial. As frequências relativas de pontas El-Khiam, truncamentos Hagdud, micrólitos e pequenos pedaços bifaciais foram usadas para definir duas fácies do PPNA, o Khiamiano e o Sultaniano, com o último tendo baixas frequências de micrólitos e a presença de truncamentos Hagdud e picaretas bifaciais. Há um debate em andamento sobre se o Khiamiano e o Sultaniano representam kits de ferramentas funcionalmente diversos da mesma cultura, encontrados em locais diferentes (Nadel, 1990) ou dentro do mesmo assentamento (Mithen et al., 2000) ou fases cronologicamente sucessivas do PPNA (Bar-Yosef 1998b). Alguns argumentam que o Khiamiano é meramente uma mistura pós-deposicional do Sultaniano e do Natufiano subjacente (Garfinkel, 1996).
11. Isso é evidente pelos traços de microdesgaste presentes nas pontas, muitos dos quais indicam um movimento circular característico de perfuração ou perfuração em vez das fraturas de impacto que surgem nas pontas de projéteis. Esses estudos de microdesgaste estão sendo conduzidos por Sam Smith como pesquisa de doutorado na Universidade de Reading. Um relatório preliminar sobre as pontas de Dhra’ é fornecido em Goodale & Smith (2001).

 

Bibliografia citada neste capítulo

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Nadel, D., Bar-Yosef, O., Gopher, A. 1991. Early Neolithic arrowhead types in the southern Levant: A typological suggestion. Paléorient 17, 109–19.

von Furer-Haimendorf, C. 1938. The head-hunting ceremonies of the Konyak Nagas of Assam. Man 38, 25.

 

*Este livro conduz alguém dos tempos modernos aos pré-históricos: alguém para ver os instrumentos de pedra sendo feitos, os fogos ardendo nos lares e as moradas ocupadas; alguém para visitar as paisagens do mundo da era do gelo e vê-las mudar. Escolhi um rapaz chamado John Lubbock para essa tarefa. Ele visitará cada um dos continentes, começando no oeste da Ásia e seguindo pelo mundo afora: Europa, as Américas, Austrália, leste da Ásia, sul da Ásia e África. Viajará da mesma forma como os arqueólogos escavam — vendo os mais íntimos detalhes das vidas das pessoas, mas incapaz de fazer qualquer pergunta e com sua presença inteiramente desconhecida. Farei comentários para explicar como os sítios arqueológicos foram descobertos, escavados e estudados; as formas como contribuem para nossa compreensão de como surgiram a agricultura, as cidades e a civilização. Quem é John Lubbock? Ele vive em minha imaginação como um rapaz interessado no passado e com medo do futuro — não o seu próprio, mas o do planeta Terra. Tem o mesmo nome de um polímata vitoriano que, em 1865, publicou seu próprio livro sobre o passado e intitulou-o Prehistoric Times [Tempos pré-históricos]. O John Lubbock vitoriano (1834-1913) era vizinho, amigo e seguidor de Charles Darwin. Foi um banqueiro que instigou reformas financeiras-chave, um membro liberal do Parlamento que apresentou a primeira legislação para proteção de monumentos antigos e férias em bancos (públicos), um botânico e entomologista com muitas publicações científicas em seu nome. [Mas] vou mandar um John Lubbock dos dias de hoje para os tempos pré-históricos, levando um exemplar do livro de seu xará. Lendo-o em remotos cantos do mundo, ele apreciará tanto os feitos do John Lubbock vitoriano quanto o notável progresso que os arqueólogos fizeram desde a publicação de Prehistoric Times menos de 150 anos atrás. Uso John Lubbock para assegurar que esta história é mais sobre vidas de pessoas que apenas os objetos que os arqueólogos encontram.

O que especialistas em arqueologia fazem?

Dig Scene Investigators: What do archaeology specialists do? – By Nathan Steinmeyer: BAR – February 19, 2025

Hoje a arqueologia é bem mais especializada do que nos seus primeiros anos, com arqueólogos buscando responder a perguntas cada vez mais minuciosas e complexas. Mas o que são essas especializações e como elas afetam uma escavação? Para responder a essa pergunta, a BAR conversou com especialistas para perguntar o que eles fazem no campo.

Ceramistas
Uma das descobertas mais importantes em quase qualquer escavação arqueológica, a cerâmica nos conta muito sobre as pessoas que viveram ou passaram por um local. Ao fornecer informações sobre a cultura, a tecnologia e, especialmente, o lugar no tempo de uma sociedade, a cerâmica desempenha um papel fundamental na compreensão de um local desde o início. Com tantos tipos de cerâmica antiga, no entanto, os arqueólogos geralmente recorrem a especialistas para aprender mais sobre o que a cerâmica pode revelar sobre o passado.O arqueólogo da IAA Jacob Sharvit ( à esquerda ) e a líder ambiental da Energean, Karnit Bahartan, examinam dois jarros de armazenamento cananeus após serem recuperados do fundo do mar Mediterrâneo em 30 de maio de 2024.

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Zooarqueólogos
Exigindo ampla experiência em biologia animal, os zooarqueólogos são outros especialistas importantes em escavações. Ao analisar restos da fauna e seus contextos arqueológicos, esses especialistas ajudam a entender a relação entre povos antigos e o meio ambiente, seja investigando dietas antigas, domesticação animal ou práticas de pastoreio e caça.

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Arqueólogos espaciais
Arqueólogos espaciais são especialistas em entender a topografia de sítios arqueológicos usando equipamentos tecnológicos como dispositivos GPS portáteis, níveis topográficos, estações totais, equipamentos RTK, drones e muito mais. Também é necessária experiência para transformar dados topográficos e espaciais em resultados significativos e apresentáveis. O avanço contínuo de equipamentos e softwares necessita de especialistas dedicados para atingir os resultados mais completos e precisos.

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Geoarqueólogos marinhos
Semelhante à arqueologia espacial, a geoarqueologia marinha foca no contexto ambiental de sítios arqueológicos, mas, como o nome indica, debaixo d’água. Dadas as condições incrivelmente desafiadoras e específicas da arqueologia marítima, os geoarqueólogos utilizam ferramentas e técnicas de ponta para documentar adequadamente sítios e achados.

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Escavações no cemitério filisteu de AscalonConservadores
Apesar do que filmes como Indiana Jones podem sugerir, a arqueologia é muito mais do que caça ao tesouro, e um especialista importante nesse esforço é o conservador. Esses indivíduos altamente treinados, que geralmente têm formação em estudos de museus e ciências exatas, preservam objetos escavados para estudo e exibição no futuro e também trabalham para proteger o local e suas características após a conclusão da escavação.

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Osteologistas
Semelhantes aos zooarqueólogos, os osteologistas trabalham com ossos, mas ossos humanos em vez de animais. Além de garantir que restos mortais e sepulturas humanas sejam manuseados de forma responsável, esses especialistas respondem a perguntas sobre como as pessoas viveram, morreram e foram enterradas com base em seus restos mortais. Da identificação de doenças antigas à análise de práticas de sepultamento, os osteologistas se especializam nos mínimos detalhes da existência humana cotidiana e da morte.

Leia, abaixo, o texto completo.

 

Since the early years of archaeology, the discipline has gradually become more specialized, with archaeologists seeking to answer ever more minute and complex questions. But what are these specializations and how do they affect an excavation? To answer this question, BAR caught up with specialists to ask them what they do in the field.

Ceramicists
One of the most important finds on nearly any archaeological dig, ceramics tell us a lot about the people who lived in or passed through a site. By providing information about a society’s culture, technology, and especially place in time, ceramics play a key role in understanding a site from the very start. With so many types of ancient pottery, however, archaeologists often turn to specialists to learn more about what ceramics can reveal about the past.

Nava Panitz-Cohen, Hebrew University of Jerusalem
“On a historical excavation, pottery is usually the most ubiquitous find. Since the sheer quantity can be daunting, the dig ceramic specialist has to classify and process the pottery in a way that will allow for ongoing research and analysis that will give the silent sherds a voice. Most of the work during the excavation itself is technical. First and foremost, an integral documentation and recording system in the field must be established that will allow for the secure reconstruction of the pottery’s context after it is excavated. After being washed, all the pottery that is collected in the field is sorted. The ceramic specialist then carefully examines all sherds, choosing which to keep. If the pottery is restorable, all sherds are kept. The results of sorting are recorded in an excavation database, so we know what was kept and what was discarded. In many instances, the pottery is the only indicator of the chronology and type of context. This stage of processing is critical for the ongoing research that will take place subsequently in the laboratory.”

Zooarchaeologists
Requiring extensive expertise in animal biology, zooarchaeologists are another key specialist in excavations. By analyzing faunal remains and their archaeological contexts, these specialists help to understand the relationship between ancient people and the environment, whether it is investigating ancient diets, animal domestication, or herding and hunting practices.

Abra Spiciarich, Ludwig Maximilian University of Munich
“Animal bones found in archaeological contexts are studied by zooarchaeologists to reconstruct past ways we interacted with animals. This varies from trying to uncover the beginning of domestication to using animals for rituals and feasts. To properly excavate bones, we use dental tools to carefully expose the entire skeleton, take lots of photos, make a top plan, and collect them with properly labeled bags or boxes, but never plastic bags because this creates moisture that will damage the remains. Once back in the lab, we create detailed spreadsheets recording what we can about the bones: element, side, species, completeness, age, and taphonomic evidence, like burn marks, cut marks, gnawing by scavengers, etc. We then take this dataset, apply statistical queries, and see what this tells us about how animals were used within specific contexts of a site.”

Lidar Sapir-Hen, Tel Aviv University
“My lab members and I collaborate with the excavation staff, from the time of planning, through the excavation, and following it. In the first stage of the work, we collaborate to understand the excavation aims and to design a protocol for the comprehensive retrieval of finds. During the excavation itself, our presence in the field is necessary. We direct the workers and students through the stages of retrieving and handling animal bones. Sometimes, our on-site input may change the course of an excavation. In addition, it is important for us to see and understand the context the finds were retrieved from, for subsequent analysis and interpretation. This collaboration continues into the post-excavation stage in the lab and includes a dialogue with all experts to formulate a comprehensive understanding of past human societies.”

Spatial Archaeologists
Spatial archaeologists specialize in understanding the topography of archaeological sites using technological equipment such as handheld GPS devices, dumpy levels, total stations, RTK equipment, drones, and more. Expertise is also required to turn topographic and spatial data into meaningful and presentable results. The continued advancement of equipment and software necessitates dedicated specialists to achieve the most complete and precise results.

Ido Wachtel, Hebrew University of Jerusalem
“Spatial archaeologist allows researchers to explore how ancient societies interacted with and adapted to their environments, as well as to uncover patterns, relationships, and hidden insights within archaeological data. At the regional level, systematic field surveys and spatial analysis form the cornerstone of our research, shedding light on the locations, sizes, and densities of human occupations and other different ways of human-landscape interactions. For example, archaeological predictive modeling enables us to predict the location of unknown archaeological sites and offers a comprehensive framework for protecting cultural heritage. At the site level, precise GPS and drone technologies have revolutionized site documentation.”

Marine Geoarchaeologists
Similar to spatial archaeology, marine geoarchaeology focuses on the environmental context of archaeological sites, but, as the name implies, underwater. Given the incredibly challenging and specific conditions of maritime archaeology, geoarchaeologists utilize cutting-edge tools and techniques to properly document sites and finds.

Isaac Ogloblin Ramirez, University of Haifa
“Documenting underwater archaeological contexts and collecting archaeological samples presents significant challenges due to diving limitations. Even under the best conditions, precisely documenting a stratigraphy sequence is nearly impossible due to the way colors change underwater. Given these conditions, the active involvement of geoarchaeologists during fieldwork is crucial for accurately documenting stratigraphic context and ensuring proper sample collection. This involvement helps prevent data misinterpretations resulting from improper sampling techniques. Following these intense underwater excursions, collected samples are transported to the laboratory for analysis, which aids in drawing conclusions about human behavior. The emerging field of underwater geoarchaeology is paving the way for innovative insights into humans and their aquatic environments.”

Conservators
Despite what movies like Indiana Jones may suggest, archaeology is about much more than treasure hunting, and an important specialist in this endeavor is the conservator. These highly trained individuals, who often have backgrounds in both museum studies and the hard sciences, preserve excavated objects for future study and display and also work to protect the site and its features after excavation is completed.

Orna Cohen
“As a conservator, I am involved in the process of digging and planning possible future development. While exposing structures, like walls and pillars, we must protect them until it is decided whether to dismantle or keep them. On the micro level, we glue cracked stones, restore stones to their original places, protect floors, and so on. When it comes to artifacts, it involves rescuing, strengthening, and packing them to be shipped to the laboratory where I will clean, consolidate, stabilize, restore, and treat them. During the excavation, we also plan the protection of the sites between the seasons with coverings, drainage, and fencing.”

Osteologists
Similar to zooarchaeologists, osteologists work with bones, but human bones rather than animal. In addition to making sure that human remains and graves are handled responsibly, these specialists answer questions about how people lived, died, and were buried based on their remains. From identifying ancient illnesses to analyzing burial practices, osteologists specialize in the minute details of everyday human existence and death.

Rachel Kalisher, Brown University
“As a bioarchaeologist, my primary responsibility is to handle human remains ethically and with the utmost respect. In that regard, I do my best to thoroughly document and report my findings. Prior to removing remains from the ground, I sketch each burial context, including accompanying artifacts and the location of the skeletal remains themselves. I note the body position and orientation and make any other notes that will be useful for interpretation. Bones are carefully removed and initially stored in paper bags, which ensures that the moisture from the adhering dirt dries out and does not produce mold. Once removed, the bones come straight to the laboratory where I remove dirt with wooden tools and brushes. I record the bones that are present, note any anomalies, and take photos and measurements when necessary.”

Relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo na Bíblia

KAZEN, T. Dirt, Shame, Status: Perspectives on Same-Sex Sexuality in the Bible and the Ancient World. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2024, 224 p. -ISBN 9780802884343.

Um exame acadêmico da sexualidade entre pessoas do mesmo sexo na Bíblia no contexto do mundo antigo.KAZEN, T. Dirt, Shame, Status: Perspectives on Same-Sex Sexuality in the Bible and the Ancient World. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2024, 224 p.

Proibições bíblicas de atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo são frequentemente usadas como provas para apoiar a opressão das comunidades LGBT no ocidente hoje. No entanto, tal interpretação dessas escassas referências ignora o contexto sociohistórico crítico do mundo antigo.

Analisando uma riqueza de fontes primárias, Thomas Kazen traz estudos bíblicos para uma conversa com as normas e práticas sexuais do mundo antigo. Textos do antigo Oriente Médio, gregos e romanos, incluindo o Antigo e o Novo Testamento, exibem preocupações antigas sobre hierarquia em relacionamentos sexuais. Examinando referências à sexualidade através das lentes de poder e subordinação, honra e vergonha, e pureza, Kazen lança luz sobre passagens homofóbicas na Bíblia. Atenção especial é dada às leis levíticas e às epístolas paulinas. Por fim, Kazen nos chama a renegociar o equilíbrio entre nossa herança antiga e nossos valores contemporâneos.

Cuidadosamente pesquisado e apresentado de forma acessível, Dirt, Shame, Status oferece aos leitores uma visão sobre as diversas influências culturais na Bíblia. O trabalho de Kazen oferece uma perspectiva informada e importante sobre um tópico controverso de interesse perene. Acadêmicos, estudantes e todos os leitores curiosos das Escrituras acharão este volume um recurso indispensável para entender textos e contextos antigos complexos.

Thomas Kazen é professor e pesquisador na área de estudos bíblicos na Escola de Teologia de Estocolmo, University College Stockholm, Suécia. Ele é autor de vários livros e artigos em inglês e sueco.

 

A scholarly examination of same-sex sexuality in the Bible in the context of the ancient world.

Scriptural prohibitions of same-sex sexual acts (so-called “clobber passages”) are often used as prooftexts to support the oppression of LGBT communities in the West today. However, such interpretation of these scant references ignores critical sociohistorical context from the ancient world.

Thomas Kazen (1960-)Analyzing a wealth of primary sources, Thomas Kazen brings biblical studies into conversation with the sexual norms and practices of the ancient world. Near Eastern, Greek, and Roman texts, including the Old and New Testaments, exhibit ancient concerns about hierarchy in sexual relationships. Examining references to sexuality through the lenses of power and subordination, honor and shame, and purity, Kazen sheds light on homophobic passages in the Bible. Special attention is given to the Levitical laws and the Pauline epistles. Ultimately, Kazen calls us to renegotiate the balance between our ancient heritage and our contemporary values.

Carefully researched and accessibly presented, Dirt, Shame, Status lends readers insight into the diverse cultural influences on the Bible. Kazen’s work offers an informed and important perspective on a controversial topic of perennial interest. Scholars, students, and all curious readers of Scripture will find this volume to be an indispensable resource for understanding complex ancient texts and contexts.

Thomas Kazen is professor and research chair of biblical studies at Stockholm School of Theology, University College Stockholm. He has authored numerous books and articles in English and Swedish, including Moral Infringement and Repair in Antiquity and Impurity and Purification in Early Judaism and the Jesus Tradition.

Ações simbólicas no livro de Ezequiel

MAYFIELD, T. D.; BARTER, P. (eds.) Ezekiel’s Sign-Acts: Methods and Interpretation. Berlin: Walter de Gruyter, 2024, 240 p. – ISBN 9783111519739.

As passagens de Ezequiel que descrevem as instruções e a dramatização de mensagens divinas (Ezequiel 3-5; 12; 24; 37) estão entre as mais bizarras da BíbliaMAYFIELD, T. D.; BARTER, P. (eds.) Ezekiel’s Sign-Acts: Methods and Interpretation. Berlin: Walter de Gruyter, 2024, 240 p. Hebraica. O profeta é ordenado a incorporar sua mensagem de julgamento a Jerusalém, e essas ações esclarecem os oráculos que elas cercam. No entanto, esses atos de sinais são frequentemente negligenciados nos estudos de Ezequiel, que tendem a se concentrar nas visões estranhas e nos oráculos controversos do livro. Este volume aborda a crescente diversidade de abordagens nos estudos de Ezequiel, convidando acadêmicos seniores e juniores internacionais a se concentrarem nos textos relativos às ações simbólicas de Ezequiel. Ele visa redirecionar a atenção acadêmica para esses textos frequentemente ignorados, que são tão centrais para a compreensão da natureza da profecia, bem como do livro de Ezequiel.

 

The Ezekiel passages describing the instructions for, and dramatization of, divine messages (Ezekiel 3-5; 12; 24; 37) are among the most bizarre in the Hebrew Bible. The prophet is commanded to embody his message of judgment to Jerusalem, and these actions clarify the oracles they surround. Yet, these sign-acts are frequently overlooked within Ezekiel studies, which tend to focus on the book’s strange visions and controversial oracles. This volume addresses the growing diversity in approaches in Ezekiel studies by inviting international senior and junior scholars to focus on the texts concerning Ezekiel’s sign-acts. It aims to redirect scholarly attention to these often-ignored texts, which stand so central to understanding the nature of prophecy as well as the overall book of Ezekiel.

Tyler D. Mayfield, Lousville, KY, USA, and Penelope Barter, Amsterdam, The Netherlands.

História da língua acádia

VITA, J.-P. (ed.) History of the Akkadian Language (2 Vols). Leiden: Brill, 2021, 1692 p. – ISBN 9789004445208.

O acádio é, depois do sumério, a língua mais antiga atestada na Mesopotâmia, bem como a mais antiga língua semítica conhecida. É também uma língua com um dos registros escritos mais longos da história. E, no entanto, diferentemente de outras línguas relevantes escritas ao longo de um grande período de tempo, não houve nenhum volume dedicado à sua própria história. O objetivo do presente trabalho é preencher esse vazio. Como ele cresceu para abraçar tantas facetas do acádio, e alguns de seus capítulos são tão extensos, o trabalho é dividido em dois volumes, o primeiro cobrindo as partes 1–4 (Contexto linguístico e períodos iniciais), o segundo cobrindo as partes 5–8 (O segundo e o primeiro milênios a.C. Vida após a morte).VITA, J.-P. (ed.) History of the Akkadian Language (2 Vols). Leiden: Brill, 2021, 1692 p.

Um trabalho desse tipo só poderia ser um esforço coletivo. O resultado é apresentado em 26 capítulos escritos por 25 autores. É, portanto, um trabalho com uma gestação longa e complexa. Os autores receberam apenas uma sugestão geral de que, na medida do possível, seus capítulos não deveriam se limitar aos aspectos gramaticais da língua, mas também deveriam levar em conta seu contexto histórico e cultural.

Veja o sumário do livro e informações sobre os autores, em pdf, clicando aqui.

Juan-Pablo Vita é pesquisador do CSIC (Consejo Superior de Investigaciones Científicas) em Madri. Ele trabalha com línguas semíticas do noroeste (especialmente ugarítico) e acádio (em particular dialetos acádios periféricos), contato linguístico e história social e econômica da Síria e Canaã na Idade Recente do Bronze. Ele também é epigrafista da Mission archéologique syro-française de Ras Shamra-Ougarit.

 

Akkadian is, after Sumerian, the second oldest language attested in the Ancient Near East, as well as the oldest known Semitic language. It is also a language with one of history’s longest written records. And yet, unlike other relevant languages written over a long period of time, there has been no volume dedicated to its own history. The aim of the present work is to fill that void. Because it grew to embrace so many facets of Akkadian, and some of its chapters are so extensive, the work is divided into two volumes, the first covering parts 1–4 (Linguistic Background and Early Periods), the second covering parts 5–8 (The Second and First Millennia bce. Afterlife).

Juan-Pablo Vita (1967-)A work of this type could only be a collective endeavor. The outcome is presented in 26 chapters written by 25 authors. It is, therefore, a work with a long and complex gestation. The authors were given only a general suggestion that, as far as possible, their chapters should not be limited to the grammatical aspects of the language, but should also take into account its historical and cultural background.

Juan-Pablo Vita is a researcher at the Spanish National Research Council (csic) in Madrid. He works on Northwest Semitic languages (especially Ugaritic) and Akkadian (in particular peripheral Akkadian dialects), language contact, and the social and economic history of Syria and Canaan in the Late Bronze Age. He is also epigraphist of the Mission archéologique syro-française de Ras Shamra-Ougarit.

Os escribas da Torá

SCHMID, K. The Scribes of the Torah: The Formation of the Pentateuch in Its Literary and Historical Contexts. Atlanta: SBL Press, 2023, 954 p. – ISBN 9781628374315.

Disponível para download gratuito no Projeto ICI da SBL.SCHMID, K. The Scribes of the Torah: The Formation of the Pentateuch in Its Literary and Historical Contexts. Atlanta: SBL Press, 2023, 954 p.

Esta coleção de trinta e um estudos sobre o Pentateuco representa mais de vinte anos de pesquisa e publicações de Konrad Schmid defendendo uma nova visão da formação do Pentateuco. Os ensaios são divididos em oito seções utilmente estruturadas em torno dos temas do Pentateuco, a história da pesquisa, a formação da Torá, Gênesis, a história de Moisés, o documento sacerdotal, textos legais e o Pentateuco na história da religião do antigo Israel.

Quem eram os escribas da Torá? Quando eles escreveram partes específicas da Torá? Quando, como e por que a Torá foi composta? Possíveis respostas a essas perguntas pareciam mais claras e mais prontamente disponíveis várias décadas atrás. Isso, no entanto, não significa que hoje sabemos menos sobre a escrita e composição da Torá do que no final do século XX. Em uma escala global, agora estamos mais cientes das deficiências e falácias do consenso que existia na pesquisa de Wellhausen a Rendtorff e de Hupfeld a Van Seters. A modificação e possivelmente até mesmo o abandono de pressupostos tradicionais nos estudos do Pentateuco não podem ser seriamente considerados como uma crise na pesquisa. Em vez disso, novas perspectivas abrem caminho para considerações mais precisas e mais bem fundamentadas sobre os escribas da Torá e seu trabalho. Isso permite, portanto, uma melhor reconstrução da estrutura histórica da gênese do Pentateuco.

Konrad Schmid é Professor de Bíblia Hebraica e Judaísmo Antigo na Universidade de Zurique, Suíça. A história literária do Pentateuco e a reconstrução dos processos redacionais que levaram à sua forma final constituem o foco principal de sua pesquisa. Ele é filho de Hans Heinrich Schmid, um dos três “revisionistas” do Pentateuco.

 

This collection of thirty-one studies on the Pentateuch represents more than twenty years of Konrad Schmid’s research and publications advocating for a new view of the Pentateuch’s formation. The essays are divided into eight sections usefully structured around the themes of the Pentateuch in the Enneateuch, the history of scholarship, the formation of the Torah, Genesis, the Moses story, the Priestly document, legal texts, and the Pentateuch in the history of ancient Israel’s religion.

Konrad Schmid (nasceu em 1965)Who were the scribes of the Torah? When did they write specific parts of the Torah? When, how, and why was the Torah composed? Possible answers to these questions seemed clearer and more readily available several decades ago. This, however, does not mean that we know less regarding the writing and composition of the Torah than at the end of the twentieth century. On a global scale, now we are more aware of the shortcomings and fallacies of the assumed consensus that reigned in pentateuchal scholarship from Wellhausen to Rendtorff and from Hupfeld to Van Seters. The modification and possibly even the abandonment of traditional assumptions in scholarship cannot be seriously considered as a dominant backdrop of pentateuchal research. Rather, it paves the way to more accurate and better-founded assumptions regarding the scribes of the Torah and their work. It thereby enables a better reconstruction of the historical framework of the Pentateuch’s genesis.

Konrad Schmid is Professor of the Hebrew Bible and Ancient Judaism at the University of Zurich. The literary history of the Pentateuch and the reconstruction of the redactional processes that led to its final shape constitute the main focus of his research. Konrad Schmid is the son of the Old Testament professor Hans Heinrich Schmid (1937–2014), who also taught at the Universität Zürich.

Desolação encontra desolação

Austen Henry Layard, no capítulo inicial de seu livro Nineveh and Its Remains*, publicado por John Murray em Londres, em 1849, diz:

Durante o outono de 1839 e o inverno de 1840, eu estava perambulando pela Ásia Menor e Síria, sem deixar de pisar em nenhum lugar considerado sagrado pela tradição ou de visitar uma ruína consagrada pela história. Eu estava acompanhado por alguém não menos curioso e entusiasmado do que eu. Nós dois éramos igualmente descuidados com o conforto e desatentos com o perigo. Nós cavalgávamos sozinhos; nossas armas eram nossa única proteção; um alforje atrás de nossas selas era nosso guarda-roupa, e nós cuidávamos de nossos próprios cavalos, exceto quando aliviados do dever pelos habitantes hospitaleiros de uma aldeia turcomana ou de uma tenda árabe. Assim, sem ficarmos presos a luxos desnecessários e sem sermos influenciados pelas opiniões e preconceitos dos outros, nos misturamos às pessoas, adquirimos sem esforço seus costumes e desfrutamos aquelas emoções que cenários tão novos e lugares tão ricos em associações variadas não podem deixar de produzir.LAYARD, A. H. Nineveh and Its Remains. New York: Skyhorse, 2013.

(…)

Eu havia atravessado a Ásia Menor e a Síria, visitando os antigos monumentos da civilização e os lugares que a religião tornou sagrados. Agora eu sentia um desejo irresistível de penetrar nas regiões além do Eufrates, para as quais a história e a tradição apontam como o berço da civilização do Ocidente. A maioria dos viajantes, após uma jornada pelas partes geralmente frequentadas do Oriente, tem o mesmo desejo de cruzar o grande rio e explorar aquelas terras que são separadas no mapa dos confins da Síria por um vasto espaço em branco que se estende de Alepo às margens do Tigre. Um profundo mistério paira sobre a Assíria, Babilônia e Caldeia. A esses nomes estão ligadas grandes nações e grandes cidades, vagamente esboçadas na história; ruínas poderosas, no meio de desertos, desafiando, por sua própria desolação e falta de forma definida, a descrição do viajante; os remanescentes de raças poderosas ainda vagando pela terra; o cumprimento de profecias; as planícies para as quais os judeus e os gentios olham como o berço de seus povos. Após uma jornada na Síria, os pensamentos naturalmente se voltam para o leste e sem pisar nos restos de Nínive e Babilônia, nossa peregrinação é incompleta.

(…)

Se o viajante cruzasse o Eufrates para procurar ruínas na Mesopotâmia e na Caldeia como as que ele havia deixado para trás na Ásia Menor ou na Síria, sua busca seria em vão. A graciosa coluna erguendo-se acima da espessa folhagem da murta, do ílex e do oleandro; as arquibancadas do anfiteatro cobrindo uma encosta suave e com vista para as águas azul-escuras de uma baía semelhante a um lago; a cornija ou capitel ricamente esculpidos meio escondidos pela vegetação luxuriante são substituídos pelo monte austero e informe erguendo-se como uma colina da planície chamuscada, os fragmentos de cerâmica e a massa estupenda de alvenaria ocasionalmente exposta pelas chuvas de inverno. Ele deixou a terra onde a natureza ainda é adorável, onde, em sua mente, ele pode reconstruir o templo ou o teatro, meio duvidando se eles teriam feito uma melhor impressão sobre os sentidos do que a ruína diante dele. Ele agora está desorientado para dar qualquer forma aos montes rudes sobre os quais ele está olhando. Aqueles de cujas obras eles são os restos, ao contrário dos romanos e gregos, não deixaram vestígios visíveis de sua civilização ou de suas artes; sua influência já passou há muito tempo. Quanto mais ele conjectura, mais vagos os resultados parecem. A cena ao redor é digna da ruína que ele está contemplando; desolação encontra desolação; um sentimento de espanto sucede à admiração; pois não há nada para aliviar a mente, para levar à esperança, ou para contar o que se passou. Esses enormes montes da Assíria causaram uma impressão muito profunda em mim, deram origem a pensamentos mais sérios e a reflexões mais sérias do que os templos de Baalbeque e os teatros da Jônia.

* LAYARD, A. H. Nineveh and Its Remains. 2 vols. London: John Murray, 1849.

 

During the autumn of 1839 and winter of 1840, I had been wandering through Asia Minor and Syria, scarcely leaving untrod one spot hallowed by tradition, or unvisited one ruin consecrated by history. I was accompanied by one no less curious and enthusiastic than myself. We were both equally careless of comfort and unmindful of danger. We rode alone; our arms were our only protection; a valise behind our saddles was our wardrobe, and we tended our own horses, except when relieved from the duty by the hospitable inhabitants of a Turcoman village or an Arab tent. Thus unembarrassed by needless luxuries, and uninfluenced by the opinions and prejudices of others, we mixed amongst the people, acquired without effort their manners, and enjoyed without alloy those emotions which scenes so novel, and spots so rich in varied association, cannot fail to produce.

(…)

Austen Henry Layard (1817-1894)I had traversed Asia Minor and Syria, visiting the ancient seats of civilisation, and the spots which religion has made holy. I now felt an irresistible desire to penetrate to the regions beyond the Euphrates, to which history and tradition point as the birthplace of the wisdom of the West. Most travellers, after a journey through the usually frequented parts of the East, have the same longing to cross the great river, and to explore those lands which are separated on the map from the confines of Syria by a vast blank stretching from Aleppo to the banks of the Tigris. A deep mystery hangs over Assyria, Babylonia, and Chaldæa. With these names are linked great nations and great cities dimly shadowed forth in history; mighty ruins, in the midst of deserts, defying, by their very desolation and lack of definite form, the description of the traveller; the remnants of mighty races still roving over the land; the fulfilling and fulfilment of prophecies; the plains to which the Jew and the Gentile alike look as the cradle of their race. After a Journey in Syria the thoughts naturally turn eastward; and without treading on the remains of Nineveh and Babylon our pilgrimage is incomplete.

(…)

Were the traveller to cross the Euphrates to seek for such ruins in Mesopotamia and Chaldæa as he had left behind him in Asia Minor or Syria, his search would be vain. The graceful column rising above the thick foliage of the myrtle, ilex, and oleander; the gradines of the amphitheatre covering a gentle slope, and overlooking the dark blue waters of a lake-like bay; the richly carved cornice or capital half hidden by the luxuriant herbage; are replaced by the stern shapeless mound rising like a hill from the scorched plain, the fragments of pottery, and the stupendous mass of brickwork occasionally laid bare by the winter rains. He has left the land where nature is still lovely, where, in his mind’s eye, he can rebuild the temple or the theatre, half doubting whether they would have made a more grateful impression upon the senses than the ruin before him. He is now at a loss to give any form to the rude heaps upon which he is gazing. Those of whose works they are the remains, unlike the Roman and the Greek, have left no visible traces of their civilisation, or of their arts; their influence has long since passed away. The more he conjectures, the more vague the results appear. The scene around is worthy of the ruin he is contemplating; desolation meets desolation; a feeling of awe succeeds to wonder; for there is nothing to relieve the mind, to lead to hope, or to tell of what has gone by. These huge mounds of Assyria made a deeper impression upon me, gave rise to more serious thoughts and more earnest reflection, than the temples of Balbec and the theatres of Ionia.